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Música

Tivemos um Teto Preto no Festival de Horror do Kirk Hammett

Kirk Hammett e o Metallica no Festival de Horror. A parada é tão sinistra que rola até zombies. Saca só.

Fotos por Demian Becerra

O primeiro disco que eu comprei na vida foi o Baby One More Time, da Britney Spears, quando eu estava na terceira série, e desde então eu tenho ido atrás desses sons dessa época do pop grudento do fim dos anos 90 e que eu cresci ouvindo. Na época da escola, me lembro de um moleque que chamava Jesse e era meio dark e tal, ele usava uma camiseta que tinha escrito “SPEAR BRITNEY” que era um trocadilho com o significado do sobrenome da Britney, que significa “lança”, e que na camiseta queria dizer algo como “Empale a Britney”, e vinha escrito em uma fonte bem violenta e sinistra. Quando eu olhava para ele com aquela camiseta, eu via a minha infância sendo desvendada. Eu acho que o Jesse pode muito bem ter se tornado um desses metaleiros que usam camisetas de banda com essa mesma fonte da camiseta da Britney Spears, e que jogam a cabeleira pra frente e pra trás, mandam aquele olhar demoníaco ao som do Carcass tocando Thrasher’s Abbatoir, num canto esfumaçado do festival do Kirk Von Hammet, o Fear FestEvil.

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O Regency Ballroom é um salãozão maçônico que existe há uns cem anos e que fica no centro de São Francisco e lá foi a sede da primeira edição do Fear FestEvil, do Kirk Von Hammett. O festival foi uma convenção de dois dias que explorou essa pira da interseção entre o horror e o metau que o guitarrista do Metallica tem. Durante todo o final de semana que rolou o encontro, eu visitei mais ou menos umas 50 barracas de vendedores e expositores, no anexo subterrâneo do Ballroom.

No dia seguinte eu fui conhecer o Kirk. Eu estava na maior ressaca de margaritas do Mission que eu mandei no dia anterior, mas até que eu consegui manter as aparências. Enquanto eu estava indo, eu comecei a me preocupar se o meu status de novato do metal seria uma desvantagem, mas o Kirk tava de boa e continuou sussa durante toda nossa conversa. Talvez ele até tenha ficado um pouco aliviado de finalmente conhecer alguém que não ficou deslumbrado com a sua presença. Nós rimos muito e eu tenho certeza que já somos melhores amigos desde a infância. Eu me surpreendi com a aparência do Kirk, o cara tem 51 anos e, considerando que ele tem sido um rockstar há mais tempo que a minha existência, ele tá ótimo. Eu não consegui disfarçar que eu curti muito a roupa dele e fiz ele contar pra mim sobre o que ele estava usando: jaqueta de couro personalizada com detalhes em camurça e bordado de um demônio com uma serpente na parte das costas, os jeans eram japoneses e são os seus preferidos, e as botas – parisienses – eram de pele de cobra.

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Enquanto eu fiquei batendo papo com o Kirk no sofá, na sala verde dele, me ocorreu que o Metallica representa uma autenticidade do passado que permite que ex-artistas e bandas levem um estilo de vida em cima do legado que eles construíram durante anos com muito suor. Conforme Kirk lamenta, a internet demarcou uma mudança radical de paradigmas, matou a indústria fonográfica e dividiu as comunidades musicais para sempre. Uma coisa é certa, eu vi e senti um senso de comunidade nesse festival de horror, sobre o qual, por sinal, eu não sabia absolutamente nada a respeito, mais do que em qualquer outro show que eu já estive. Tanto que de repente eu senti falta de não ter vivido esse passado musical pelo qual o Kirk se referiu e que ele falou com tanta paixão, mas eu também agradeci o fato de que o meu primeiro álbum foi o da Britney, porque essa foi a minha maneira de fazer parte disso.

Noisey: Seu. Ca-be-lo. Eu quero pegar nele. *carinho macio* Como você foi capaz de manter esse cabelo cacheado tão espetacular ao longo dos anos?

Kirk Hammett: Biotina. É um suplemento vitamínico natural. Meu amigo Johnny Ramone que me indicou. É uma capsula pequena, você toma todos os dias e faz muito bem para o cabelo. É bem incrível.

O povo no Twitter acha que você deveria usar de novo o cabelo de mina adolescente porto-riquenha.

Eu até já se de qual foto eles estão falando, mas ah, nem é tão engraçado.

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Então, eu queria pedir desculpas por estar meio de ressaca hoje…

Você não é o único.

…Teve algum episódio ou experiência muito loka que você tenha vivenciado na fase Alcoholica, lá por volta de 1985, e que não tenha sido engolida por alguma amnésia?

Realmente, é difícil de lembrar-se de grande parte do que rolou, mas eu lembro que logo quando a gente estava fazendo a sessão de fotos pro Alcoholica, com aquela garrafa de Smirnoff inflável gigante, nós todos estávamos bem lokos de birita e depois das fotos, fomos pra rua, estávamos em Londres, com cerveja na mão e a gente sentou na rua mesmo, bem na sarjeta e continuamos a beber. As pessoas iam passando, ônibus passavam na rua e era muito óbvio que a gente estava breaco, mas continuamos lá. Naquela época a gente tomava muita vodca, e eu me surpreendo que conseguimos sair ilesos porque todos nós dirigíamos naquela época. A gente era muito maluco, muito sem noção. Digo, eu não poderia ficar daquele jeito hoje em dia, porque se eu fizesse isso hoje eu ia me foder. As pessoas iam tirar fotos minhas zoadas e, aí você sabe, a próxima parada é ir pro YouTube e aí viraliza e tals.

Olhando pra trás hoje, qual momento você acha que teria sido o ideal pro Metallica acabar?

Eu basicamente iria para onde estamos hoje, para o Through the Never. Sendo o esforço criativo que nos envolveu mais recentemente, eu acho que ele se encaixa bem na nossa discografia como sendo um trabalho em que realmente investimos muito tempo e muito esforço. Nós o fizemos o mais próximo possível da nossa visão inicial e eu acho que a fizemos um puta trabalho, acho que o Through the Never é uma obra prima, e se a banda viesse a acabar amanhã, ele seria um bom ponto final com certeza.

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Deve ser muito gratificante poder manifestar o que está no seu consciente coletivo em uma coisa real e visceral e que é sentida por tantas pessoas.

É o que nos move.

Eu estive vendo sua coleção pessoal de memorabilia de horror aqui no festival. Quais artistas macabros te influenciaram ao longo da sua vida e como você incorporou eles no seu trabalho?

Eu gosto muito do Frank Frazetta. Ele é um artista foda, provavelmente o maior ilustrador de fantasia da sua época. Eu tenho observado seus desenhos desde que eu tinha uns cinco ou seis anos. O trabalho dele meio que fundiu com a minha psique, eu tenho certeza que me influenciou em maneiras que nem mesmo eu sei.

Quais dos seus trabalhos estão expostos aqui?

Tem um foda de um carrasco que ele fez que é muito sinistro, não rola nem mostrar pros meus filhos. Eles ficam tipo “Papai, quem é esse?” E eu respondo: “Ah filho, desencana”.

Você deve estar cansado de responder isso, mas qual é sua opinião sobre pirataria desde os anos 90 e o processo contra o Napster?

Virou um monstro muito grande pra tentar controlar. A melhor coisa a se fazer é olhar pelo lado bom da coisa e abraçar a parada pelo que ela é, porque nossa música ainda está viva em todos os lugares e as pessoas ainda estão ouvindo a gente. Estamos aprendendo a lidar com essas mudanças. Toda essa parada da pirataria, da internet, destruiu a indústria fonográfica, e no final acabou mudando a música e a maneira como ela é feita. Hoje em dia parece que tem menos gente interessada em ser o melhor músico ou a melhor banda que você pode ser. Porque você pode gravar qualquer coisa, colocar lá que as pessoas vão ouvir e dizer “que legal!” ou “que droga!”. Antes era de um jeito que você tinha que conquistar respeito pra conseguir vender álbuns, você competia com outros álbuns bons de bandas boas – isso não existe mais. Todo mundo meio que joga um álbum lá e ele fica lá boiando no mundo cibernético. O que eu sinto falta é que teve um tempo em que as pessoas realmente corriam atrás das bandas. Quando um disco novo saía, era um grande evento. Você ia até a loja e via outras pessoas empolgadas comprando o disco dizendo: “Você já ouviu esse?!” “Não, não ouvi!” – e isso acabou por causa da internet. Claro, a praticidade dela e ótima, mas ela deu um ponto final brutal nisso tudo. Talvez eu esteja sendo saudosista e lamentando demais, mas é que era uma época muito foda pra ser músico e ou fã, e agora, por causa dessa cultura da praticidade que nós temos hoje, as coisas ficaram de um jeito diferente. Claro, eu fico feliz que nós nos tornamos uma banda consolidada, mas eu odiaria estar em uma banda que está começando agora, porque tudo é tão mais difícil e a audiência hoje em dia parece muito mais segregada, de pessoa pra pessoa. Enquanto antigamente era uma grande comunidade musical, agora é tudo segregado e dividido, e cada um segue o seu curso.

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Fiquei triste.

É, é uma parada triste mesmo, mas a gente está tentando lidar com isso e tentando fazer o possível para que o nome do Metallica continue por aí e que nossa música ainda continue rolando. E nós estamos constantemente pensando em maneiras de fazer as pessoas ouvirem e experienciarem o nosso som. E a gente vai ver o que vai rolar quando estiver na hora de lançar nosso próximo álbum que deve ser daqui dois , três ou quatro anos.

Você acha que você colocou as redes sociais nesse mesmo barco, dado tudo que aconteceu?

Bom, eu pessoalmente estou pouco me fodendo para as mídias sociais. Eu não estou no Facebook, Twitter e nem no Instagram. Eu não estou em nenhuma dessas porras e nem em nenhuma das outras que eu nem sei quais são e eu simplesmente não ligo. Eu. Estou. Pouco. Me. Fodendo. Pra. Isso. Mas existem pessoas e organizações que reconhecem o poder das redes sociais e o poder de espalhar a sua mensagem. Mídias sociais podem ser extremamente efetivas para quaisquer que sejam as coisas que você está fazendo ou qualquer causa que você ache importante. Mas eu, pessoalmente, estou pouco me fodendo.

Têm artistas novos que você esteja ouvindo?

Minha esposa me mostrou uma música da Steepwater Band que eu curti bastante. Eu acho o Die Antwoord bem legal, também. E tenho ouvido bastante The Clash, Big Star, Damian e Stephen Marley, mas que não é nada de novo.

Você já discotecou alguma vez?

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Não do jeito como é feito hoje, mas acho bem interessante.

O Skrillex tem tocado a semana toda aqui em São Francisco. Você tem alguma opinião sobre ele ou sobre EDM no geral?

Eu acho que o que o Skrillex tá fazendo é bem legal, dinâmico e tem uma musicalidade nisso. Mas tem outras coisas que eu ouvi por aí que são o oposto do que ele faz e que as pessoas curtem. Eu entendo o apelo do Skrillex ou do Daft Punk, mas algumas dessas bandas eu simplesmente não ouço. Eu fico tipo “DEUS, ME TIRE DESSA PORRA!”

Então eu coloquei Clarity do Zedd pra tocar no meu iPhone pra ver se ele curtia. O Kirk definitivamente não curtiu, então eu tirei uma selfie dele comigo e me mandei.

Outros pontos altos do festival foram:

Esculturas de monstros, da coleção do Kirk

Aqui eu fui zumbificado por um time de maquiadores de efeitos especiais

As FANTASIAS que as pessoas estavam usando no evento! Eu curti essa menina que era um mix de Sally do Estranho Mundo de Jack com uma drogada de metanfetamina.

ESSAS ZUMBIS PIRIGÓTICAS? COMO LIDAR?

C O L E I

Participei da minha primeira roda de pogo ao som do Carcass. Fui empurrado por metaleiros da TI suados e sem camisa. E curti. Tenho um fetiche. Outra coisa que eu reparei é que ninguém usa o telefone pra tirar fotos ou filmar nesses shows. Esse foi um conceito completamente novo pra mim, e eu curti. Foi realmente um sonho para qualquer fotógrafo da noite.

“FODAM-SE ESSAS BANDAS NOVAS DE MERDA, NÓS ESTAMOS AQUI DESDE 1985!” A galera gritava.

Eu também esperei por 72 horas para ver o Slash naquelas recepções para o público, e ele cancelou de última hora. Mas ele palestrou em outra ocasião.

Eu fiquei puto e tentei roubar o chapéu do Slash pra beber vodca nela e aí do nada apareceu esse segurança-zumbi e me expulsou do festival.

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