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Música

O Disco de Estreia do HAERTS Mostra que o Perfeccionismo Valeu a Pena

Com vocais crescentes e melodias oníricas envolvidas em uma espinha dorsal eletro-pop aconchegante, a faixa serve como uma introdução perfeita para o som cinemático praticado pelo HAERTS.

São 11 da manhã de um sábado ensolarado no Brooklyn, e os integrantes do HAERTS estão cansados. Eu não os culpo. Se comprometer a encontrar com qualquer um a essa hora em um final de semana – que, na real, é basicamente como madrugar – é facilmente uma decisão passível de arrependimento. Não só a banda está se recuperando da gravação de um clipe que tomou 14 horas do dia anterior (e algumas doses de comemoração após sua conclusão) como a sua vocalista, Nini Fabi, está cuidando de uma dor na garganta; e pra completar, eles viajam para Los Angeles amanhã para dar início a sua turnê de outono. Mas se você parar para conversar com o quarteto do Brooklyn, esta agenda cruel e sem direito a sono é um preço pequeno a se pagar pelo lançamento de seu début autointitulado.

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“Estamos trabalhando em cima do disco há três anos, mas não nos parece que estávamos esperando muito tempo para lançá-lo”, disse Fabi a respeito do aguardado primeiro álbum da banda, que acabou de sair via Columbia Records. De fato, a banda – composta por Fabi, o tecladista Ben Gebert, o guitarrista Garrett Ienner, e o baixista Derek McWilliams – vem compondo, gravando e polindo o LP quase que sem parar desde que seu primeiro single, “Wings”, foi lançado na internet lá em 2012.

Com vocais crescentes e melodias oníricas envolvidas em uma espinha dorsal eletro-pop aconchegante, a faixa serve como uma introdução perfeita para o som cinemático e quase mágico praticado pelo HAERTS. Supreendentemente, a banda não esperava que o single fosse se espalhar tão rápido como acabou acontecendo. “Quando lançamos ‘Wings’, nunca esperamos que funcionaria como single ou que as pessoas realmente fossem ouvir aquilo, mas era uma faixa que significava muito pra gente, emocionalmente”, relembra Fabi. “Só queríamos mostrar a todos o tipo de música que estávamos fazendo, tipo ‘isso aqui é o HAERTS’”.

Enquanto a história do HAERTS, a banda, começou há alguns anos, a verdadeira origem da história musical do grupo remonta à adolescência de Fabi e Gebert na Alemanha. Após terem cursado o Ensino Médio juntos em outro país e eventualmente ambos terem ido parar em Nova York, os dois se reencontraram e começaram a tocar juntos. “Benny e eu nem éramos uma banda quando começamos a tocar”, disse Fabi.

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Somente após um encontro aleatório com Jean-Philip Grobler, do grupo de dance-pop nova-iorquino St. Lucia – pouco antes de sua faixa-revelação de 2011 “All Eyes On You” cair nas graças da internet – que Fabi e Gebert começaram a desenvolver sua sonoridade e se considerarem mesmo uma banda. Dali em diante, eles adicionaram mais dois integrantes, McWilliams e Ienner (que também tocou nas demos do St. Lucia). O quarteto gravou “Wings” contando com Grobler como produtor e lançou a música no Soundcloud. Depois de atingir o status de “Canção do Verão” para alguns, grande exposição no rádio e quase um milhão de audições, pode-se dizer que a faixa – e o próprio HAERTS – havia decolado quase que imediatamente (insira piada óbvia com “Wings”, asas em inglês, aqui).

“É louco porque quando lançamos ‘Wings’ nós não tínhamos uma gravadora ou qualquer coisa organizada pra fazer o que fazemos agora”, admite Fabi. “Depois daquilo, começamos a pensar mais na banda, e eventualmente gravamos sempre que rolava uma folga nos shows”.

Isto significava chegar de mansinho no estúdio nos intervalos de shows em cidades como Nashville, Los Angeles, e Nova York, que iam muito bem, obrigado. Mas enquanto eles tinham bastante material, de acordo com Fabi, os quatro sabiam que não estavam prontos para lançar um álbum ainda.

Este tipo de paciência é raro, especialmente em uma cena musical lotada com blogs na velocidade da luz e bandas medíocres. Porém, o HAERTS é um conjunto de autodenominados perfeccionistas. E como seu disco prova, isso realmente é algo bom.

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Talhado a partir de dezenas de opções, as doze faixas do disco incluem singles do EP anterior, como “Wings” e “Hemiplegia”, bem como verdadeiras joias cheias de sintetizadores como “Call My Name” e “Be The One”. Esta mistura ampla de material novo e velho é uma escolha estratégica: não só permite a novos fãs entrarem de cabeça na sonoridade encantadora da banda, como lembra os antigos o porquê destas músicas serem tão especiais em primeiro lugar.

Nas palavras de Fabi, “nós sempre compomos músicas com um álbum em mente. Então, quando o EP saiu, haviam ali músicas que pertenciam ao disco – teria sido errado deixar ‘Hemiplegia’ de fora”. A faixa-título de seu EP de 2013, a canção lenta soa muito familiar para a banda (de acordo com a página do Facebook do HAERTS, a música é parcialmente inspirada por uma condição médica de dormência parcial temporária do corpo, que Fabi tem sentido desde a infância). Além de ser, em essência, o HAERTS: uma espinha dorsal de sintetizadores oitentistas, linhas de baixo inesperadas, letras que vem do coração e apesar de sua melodia contagiante, há um tom sinistro que segue por todo o LP.

Graças a uma mescla de eletro-pop etéreo e uma produção afiada, este é um disco que poderia servir de trilha para praticamente qualquer situação. O HAERTS cria músicas com as quais você pode dançar, ficar triste ou botar pra rolar no carro em volume alto e com as janelas abaixadas. Claro que há certa exuberância pretensiosa, mas uma que conta com a experiência de corações partidos, perdas e sofrimento (“You know the darkness no one believes, I know there’s no relief in these dreams” [Você conhece a escuridão que ninguém acredita, eu sei que não há alívio nestes sonhos] canta Fabi no mais novo single do grupo, “Giving Up”.)

Mas não importa onde você ouvir o disco, o HAERTS só faz um pedido: escute-o inteiro. "Para nós foi importante fazer um disco coeso, de verdade, não algo que fosse só uma compilação de canções”, diz Fabi. “Queremos contar uma história”. E sim, a história deles só está começando”.

Liza Darwin é uma escritora residente em Nova York. Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva