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Música

Como Fazer Um Relacionamento a Distância Funcionar, Cacete

Jenny Owen Youngs é uma moça sábia que posta fotos das tartarugas ninja no Instagram. Achamos que ela poderia responder algumas dúvidas e criamos nossa nova coluna "Pergunte para Jenny".

Em nossa nova coluna “Pergunte para Jenny Owen Youngs”, damos as rédeas para nossa cantora favorita do Brooklyn e deixamos que ela responda a suas perguntas. O que qualifica uma mulher cujos hobbies incluem postar fotos de Tartarugas Ninjas de pelúcia no Instagram (ver acima) a distribuir conselhos? Nada, ela é só uma moça sábia. Você pode dar ouvidos à sua sabedoria ou não. É com você. Aqui está a primeira tentativa dela responder às suas dúvidas. (Caso queira fazer perguntas anonimamente, você pode fazê-lo aqui)

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Como pode um relacionamento dar certo quando uma das partes está em turnê ou longe por algum tempo? Alguma dica?
Opa, excelente pergunta! Muito se diz sobre como a ausência faz o coração bater mais forte; mas esquecem de mencionar que a ausência é uma bosta. Todos sabemos que relacionamentos já são muito complicados sem misturar distância no meio. Mas conheço um monte de casais que fazem a coisa funcionar há anos (ou mesmo décadas), então, meu amigo, há sim esperança pra você.

Faço turnês regularmente há oito anos, e tive a oportunidade de bolar estratégias para manter aquela sensação de proximidade mesmo estando longe. O mais importante é você lembrar que a comunicação é essencial. (Se você está em um relacionamento agora, já deve saber bem que esta é a base sobre a qual tudo se constrói.). A menor distância entre duas pessoas que estão a centenas ou milhares de quilômetros de distância uma da outra, tecnicamente, é uma linha reta, mas também pode ser o FaceTime.

Talvez você seja como eu e acabe se enrolando com as tarefas que estão na sua cara: pegar um café, conseguir umas panquecas, dirigir, carregar equipamentos, passagens de som, arrumar a banquinha de merchandise e demais gloriosos deveres que um dia de turnê pode te trazer. Me ajudou bastante impor uma certa estrutura em minhas comunicações. Tem três coisas que faço todos os dias, aconteça o que acontecer:

1. Sempre mando uma mensagem de bom dia para minha esposa.

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2. Sempre mando uma mensagem quando vou dormir para contar pra ela como foi meu show e compartilhar qualquer coisa engraçada da noite (além disso, geralmente mando uma selfie de boa noite).

3. Sempre tento ligar pra ela se sobrar um tempinho, mesmo que seja só por alguns minutos. Por mais que eu geralmente esteja dormindo quando ela acorda, às 7h da manhã, e ela esteja dormindo quando eu deito às 3h da madrugada, sempre temos uma mensagem de bom dia uma pra outra. Quando você não tem horários definidos, como quase sempre acontece na estrada, é bom ter essas pequenas certezas.

Oi, te amo, comi só isso no café da manhã

Além do básico que é dar um sinal de vida, descobri que as coisas mais simples podem fazer uma grande diferença. Mantenha seu parceiro informado sobre o que acontece no cotidiano (“Aqui uma foto do meu café da manhã!”/“Uma mensagem pra você saber que estou ocupadaça mas pensando em você!”) pode ajudar a dar um senso de normalidade a uma situação que é, para todos os fins, não tão normal assim. Também gosto de mandar cartões postais pra casa. Por uma merreca você pode enviar pelo correio uma indicação tangível de preocupação e carinho – além de pontos de bônus pelo que consta no lado impresso (minhas melhores descobertas incluíram uma lebrílope [animal místico do folclore americano, misto de lebre e antílope], caubóis fortões sem camisa e Xena: A Princesa Guerreira).

Trocadilhos = amor.

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Mas pra subir o nível da parada – Encontro: versão remota. Até mesmo o rock’n’roll precisa de umas folgas de vez em quando, então que tal passar algumas horas daquela noite fazendo algo divertido com a outra metade da sua laranja? Praticamente qualquer hotel tem wi-fi hoje em dia, e você pode mesmo usar a internet pra entrar no Netflix e deixar carregando qualquer filme maravilhoso do Ryan Gosling (ou um episódio de Buffy: A Caça-Vampiros) e então ligar pra namô, que é claro, está se preparando para assistir a mesma coisa, e aí vocês tem uma noite de filmes à distância! Uhu! Experiências compartilhadas quando não se tem contato físico podem valer muito para se manter próximos mesmo longe, sacou?

Cada relacionamento é diferente do outro, mas todos têm algo em comum: ESFORÇO. Você conhece o seu relacionamento e seu parceiro bem melhor que eu. Crie estratégias, avalie e ajuste tudo com eles antes, durante e depois do tempo afastados! Vai dar! Seu amor é mais forte que a distância!

Oi Jenny! Tava aqui pensando como você lida com o bloqueio criativo, já que eu sempre tenho desses.
Meu querido, fique tranquilo! Isso é totalmente natural, e acho que você teria que pesquisar muito para encontrar algum criativo que nunca sofreu com isso de vez em quando. A primeira coisa que faço quando está difícil escrever algo é respirar fundo. Percebi que quando começo a me estressar (minha reação imediata é pensar que não estou escrevendo “rápido o suficiente” ou “bem o suficiente”) é que minha respiração fica mais rasa e isso não é o ideal para meu corpo ou mente. Meu próximo passo é dar uma caminhada – lá fora, entre as árvores, quando possível. Se você mora em uma cidade grande como eu, ir ao parque (ou a um cemitério particularmente exuberante, se existir algum por perto) é uma excelente opção. Uma mudança de ares pode ajudar a dar uma balançada nas partes do cérebro que parecem estar coladas no crânio. (Até onde pude determinar, isso é bom).

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A próxima dica pode parecer o contrário de útil, mas confie em mim: tente relaxar. Suspeito que a causa número um do bloqueio seja o medo dele. Você pode se ajudar no geral ao desenvolver hábitos saudáveis que sirvam de apoio pra si. Recomendo exercícios aeróbicos, ioga e meditação para uma mente mais limpa e um corpo aperfeiçoado para sobreviver ao apocalipse zumbi. Comer coisas saudáveis, beber moderadamente e dormir o bastante são fatores que tem grande impacto positivo em você. Se sua mente está focada e o corpo funcionando bem, prometo que você se sentirá muito mais preparado para compor sua “Bohemian Rhapsody” do que sem dormir bem e de ressaca.

Cão deprê.

Por último, e talvez o mais importante, preste atenção na quantidade e qualidade de música, livros e filmes que você consome regularmente. Descobri que quanto mais histórias, canções e imagens, mais fácil fica criar, pra mim. Pessoalmente, gosto de visitar museus com certa frequência para me inspirar. (De fato, meu projeto musical serial baseado em museus, EXHIBIT, foi criado como forma de tentar dar fim nesse bloqueio). Se você gosta de desafios, peça aos seus amigos o conceito de uma música e trate como trabalho comissionado: defina um prazo e entregue algo haja o que houver. Essa troca de marcha pode ajudar a dar partida em um monte de ideias.

Inspirador e assustador.

Então vamos recapitular, meu caro-colega-prestes-a-afundar-em-ideias: respire fundo, se cuide, lembre-se da natureza ao seu redor, escute, leia, veja e assista. Caso consiga adicionar algo mais à lista, lembre-se de não se levar tão a sério. Aposto que quando você começou a escrever, foi por amor ao ato em si. Tente se dar um espaço para redescobrir esse amor.

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MINHA PLAYLIST PARA BLOQUEIOS CRIATIVOS

Joni Mitchell: Blue
Tom Waits: Swordfishtrombones
Kate Bush: Hounds of Love
The Strokes: Is This It
The Innocence Mission: Birds of My Neighborhood

MINHA LISTA DE LEITURAS PARA BLOQUEIOS CRIATIVOS:

Raymond Carver: (qualquer um)
Flannery O’Connor: É Difícil Encontrar Um Homem Bom
Karen Russell: St. Lucy’s Home for Girls Raised by Wolves (sem edição brasileira)
Stephen Chbosky: As Vantagens de Ser Invísivel
Anne Carson: Autobiography of Red

Siga Jenny Owen Youngs no Twitter e envie suas perguntas - @jennyowenyoungs

Tradução: Thiago “Índio” Silva