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Música

Conheça Neijah Lanae, a Artista que Está Iluminando o Alt-Pop

Seu novo EP, Sapphire, é uma desconstrução do antigo estereótipo conhecido por “Sapphire”, um termo usado pejorativamente para designar mulheres que não têm medo de dizer o que pensam.

Ao longo dos últimos dois anos, Los Angeles tornou-se uma espécie de viveiro de cantores de alt-R&B e pop em ascensão – Allie X, King avriel, Kelela e SZA são alguns exemplos. Neijah Lanae está prestes a se juntar a eles para abalar o mundo pop. Aos 25 anos, a cantora, que deixou Oakland para viver em Los Angeles, é uma das responsáveis pela música pop mais interessante que tem sido feita na cidade, mas com uma abordagem decididamente diferenciada. As canções de Neijah são alegres e dançáveis, e nem por isso deixam de ser carregadas de crítica social e conteúdo. Seu novo EP, Sapphire, é uma desconstrução do antigo estereótipo conhecido por “Sapphire”, um termo usado pejorativamente para designar mulheres que não têm papas na língua, que não têm medo de dizer o que pensam.

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Na faixa “Tell Me”, um resgate sacana dos anos 90, Neijah quebra o clichê da cantora que insiste em tentar entender os sentimentos do seu parceiro, exigindo que ambos abram o jogo. “Sinto que em muitos relacionamentos com mulheres que são mais expansivas, o homem pode ficar na sombra enquanto a mulher assume a liderança em questões emocionais”, ela diz em entrevista por telefone. Outra coisa que separa a Neijah dos outros artistas é trabalhar ao lado de seu namorado, uma das metades do duo de produtores The Formula – o que obviamente pode ser um entrave dadas as temáticas com que ela lida. Nós conversamos com Neijah sobre desafiar a como as pessoas pensam sobre mulheres fortes, estar em um relacionamento de trabalho com seu cônjuge, e se o reinado do Prince foi ou não melhor do que o pop dos anos 90.

Vamos começar do início. Quando você começou a cantar e a fazer música?
Neijah: Comecei cantando em corais quando criança no ensino fundamental e treinei teoria musical e técnica vocal quando estava no ensino médio na Oakland School for the Arts. Assim que me formei no segundo grau, sabia que queria fazer isso profissionalmente, então quis procurar uma faculdade em LA ou em Nova York. Acabei me mudando para LA e continuei fazendo música por fora enquanto estudava, e me apresentando e compondo no meu tempo livre.

Viver em Los Angeles formou sua identidade como intérprete de alguma maneira?
Acho que não. Eu ainda tenho muito mais influência de Oakland e da Bay Area.

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Muitos artistas vivendo em LA disseram que a cidade não impacta muito a música deles. Você já pensou sobre as razões da comunidade musical daqui ser um tanto fraturada?
Eu acho que é porque tem tanta gente aqui que tá na jogada só pelo lado comercial das coisas. LA é uma cidade da indústria do entretenimento, e é isso que você tira de lá, então você precisa dar um passo pra trás para poder se inspirar mais. Não quero denegrir LA, é uma cidade linda com muita coisa acontecendo, mas não é tão inspiradora como outros lugares onde você pode viver experiências mais completas fora do mundo dos negócios.

Seu EP é mais refrescantemente e sensual do que muito do que está sendo feito no alt-pop atualmente. Você acha que sua música contrasta com essa cena?
Acho que sim. A razão do meu material ser um pouco diferente é que cresci obcecada por N*SYNC, Backstreet Boys, Spice Girls, ouvindo tudo até o hip hop, Tupac. Você vai sentir aquela sentimento mais pop, mais alegre na minha música.

Qual é a sua era favorita da musica pop?
Eu sempre fico entre a era Michael Jackson e Prince dos anos 80 – com Sheila E. e Vanity – e o pop e R&B dos anos 90.

Vamos conversar sobre algumas técnicas vocais que você usa nesse álbum. Sua voz varia desde momentos quase sussurrados no início de “Tell Me” e “All Night” até explodir em fortes melodias.
Isso realmente demonstra a colaboração que ocorreu nesse disco. Escrevi muitas músicas depois de ouvir a batida, com a exceção de “Tell Me” – compus essa a capella. “Kiss” e “Touch” foram todas feitas na base da improvisação em cima do que ouvia na música. Meu produtor vocal tem um estilo de R&B mais limpo comparado ao meu.

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E o produtor neste álbum também é seu namorado. É difícil deixar o trabalho em casa quando saem juntos? Quanto disso tudo consome a vida de vocês?
Consome bastante, não vou mentir. Estamos sempre bolando novas ideias e conversando, porque ele me ajuda em muitas áreas e não só na produção. Isso consome muito a gente, mas nós ainda reservamos um tempo para nos divertir e ver um filme de vez em quando.

Existem muitos obstáculos quando você está trabalhando com seu namorado?
Você tem o desafio de combinar duas personalidades diferentes e também conseguir equilibrar os momentos de intimidade num ambiente de trabalho. Eu sou uma pessoa muito direta. Digo o que está na minha mente e a comunicação pode ficar um pouco difícil [risos].

Já aconteceu de, enquanto você escreve uma música, seu namorado perceber que a música é sobre ele?
Eu sou bem simples com minhas letras, mas em algumas músicas ele ficou tipo “é, eu sabia que isso era sobre mim”. E tem músicas que ele diz, “eu não gosto quando você apresenta essa música. Não vou aparecer nessa horas”.

Tem alguma dessas no EP?
Felizmente, a maioria das músicas são alegres. Acho que é geralmente nas músicas mais melancólicas que dá pra perceber os momentos que estou puta com ele [risos].

Então qual é o conceito por trás do EP?
Safira é a minha pedra do signo, mas é também um apelido que meu padrasto sempre me chamava. Só percebi depois que havia uma personagem de Amos ‘n’ Andy chamada Sapphire Stevens, que também era uma mulher muito expansiva. Meu padrasto me chamava de Sapphire de uma maneira positiva, conversando com minha personalidade e como eu naturalmente tomo as rédeas da situação.

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Fiz uma pequena pesquisa sobre a personagem e vi que Sapphire se tornou um estereótipo negativo na TV e no cinema, mostrando como mulheres que têm voz ativa são intimidadoras e autocentradas. Acho que mulheres expansivas assim são vistas de maneira errada. Pessoas usam esse rótulo para calarem elas e deslegitimar suas opiniões. Eu queria virar isso do avesso e mostrar que mulheres com voz ativa são intensas e sabem o que querem. Achei que isso era uma forma de mostrar o que mulheres como essas sentem quando os assuntos são coisas vulneráveis como amor e intimidade.

Não é um assunto muito explorado no pop.
Acho que essa é a peça que falta em muitas canções pop. Nós não articulamos o que está acontecendo. As canções deveriam ser mais profundas do que algo que serve só pra fazer você dançar.

Muito da música pop é mais estilo em detrimento do conteúdo. Você pensa que irá abordar temas semelhantes nas suas próximas músicas?
Eu realmente quero. Sinto que tenho uma história pra contar… isso soa bem brega porque todo mundo fala que tem uma história pra contar – mas eu tenho, sendo da zona leste de Oakland, que é assolada pela pobreza, mas também muito criativa e próspera em outras maneiras. Apenas sinto que quero acessar algumas coisas que vivi e aprendi ao longo da minha vida. Tenho uma plataforma para fazer isso, e quero que isso tenha algum significado.

Você pode baixar o EP Sapphire no site da Neijah.

Marissa também é filha do pop e R&B dos anos 90. Ela está no Twitter - @marissagmuller