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Música

Saxon: Durões Demais Para Morrer

Os britânicos relançaram 'The Saxon Chronicles' e 'Heavy Metal Thunder – Bloodstock Edition', e achamos que isso era uma boa desculpa para entrevistar o Biff Byford.

Saxon nos velhos tempos. Foto via site oficial da banda.

Como desbravador da cena da Nova Onda do Heavy Metal Britânico no final dos anos 70 e início dos 80 – a mesma explosão de jeans e couro na Inglaterra que deu origem a bandas como Iron Maiden, Venom e Diamond Head –, o Saxon é um dos pilares incontestáveis do heavy metal. No momento em que escrevo, eles venderam mais de 15 milhões de discos por todo o mundo, e por várias vezes chegaram ao Top 40 de discos e singles na Grã-Bretanha desde a origem da banda, em 1978. Embora eles não tenham desfrutado exatamente do mesmo nível de sucesso nos Estados Unidos, influenciaram um grupo de adolescentes americanos (e um dinamarquês) que deram início a uma pequena banda chamada Metallica. Na verdade, o segundo show que o Metallica fez em sua existência foi abrindo para o Saxon, no Whiskey, em Los Angeles. É possível achar até mesmo filmagens muito mais recentes do Metallica tocando um cover do contagiante single do Saxon de 1980, "Motorcycle Man", ao vivo em Paris, com o frontman do Saxon Peter "Biff" Byford liderando os vocais.

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Os lendários britânicos relançaram The Saxon Chronicles e Heavy Metal Thunder – Bloodstock Edition, e se preparam para gravar seu 21º disco de estúdio, mesmo com o baterista Nigel Glocker se recuperando de duas cirurgias no cérebro por conta de um aneurisma sofrido no final do ano passado. Nesse meio tempo, o Saxon convocou Sven Dirkschneider, filho de Udo Dirkschneider, ex-vocalista do Accept, para substitui-lo. Recentemente, o próprio Byford nos contou toda a história.

Noisey: Como está indo o Nigel?
Biff Byford: Está melhor agora. Conversei com ele hoje. Está ficando mais forte. Ainda tem que seguir as recomendações do médico, e ainda tem que fazer visitas de rotina ao neurocirurgião toda semana. Mas ele tem feito caminhadas de seis, oito quilômetros e está tocando bateria, então está melhor. Ainda tem um pouco de dor de cabeça de vez em quando, mas acho que os médicos estão bem satisfeitos. Esperamos que ele esteja pronto para fazer o novo disco, talvez em março ou abril.

Vi a mensagem em vídeo, "relatório de cama", que ele mandou do hospital algumas semanas atrás. Ele parecia bem animado para alguém que tinha acabado de passar por duas cirurgias no cérebro.
Bem, ele é um bom ator [risos]. Estive lá com ele no hospital, e não há muito que se possa fazer. Foi um negócio que aconteceu do nada, e ele teve muita sorte de não ter sido pior. Eu o vi um dia antes e ele parecia bem. Levantou na manhã seguinte e simplesmente teve uma hemorragia. Ele não estava nem tocando. Tinha acabado de levantar da cama, então talvez tenha sido um pico de pressão ou outra coisa. Não sei. Ao que parece, não tem nada a ver com tocar bateria.

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**Nesse meio tempo vocês chamaram Sven, filho do *Udo Dirkschneider, para assumir a bateria.***

Sim, o Sven! Ele foi o técnico de bateria do Nigel nas duas últimas turnês, então Nigel achou que seria uma boa ideia que ele tocasse bateria com a banda. Ele fica me mandando fitas dele tocando a batera, mas sem música. É só ele acompanhando as nossas músicas. O som é bom, mas é um pouquinho estranho. Tudo que eu faço é mandá-las para o baixista e deixar que ele lide com isso [risos]. Mas sim, ele está dando duro mesmo. Acho que tem planos de tocar bateria com o pai mais tarde esse ano também. Ele só vai fazer sete shows conosco [no Reino Unido] por enquanto, mas é possível que nos acompanhe até os EUA também. Na verdade, depende da saúde do Nigel.

Vocês e o Udo têm história, né?
História antiga. A primeira turnê que fizemos pela Europa, deve ter sido em 1980, foi junto com o Judas Priest. Foi a turnê Wheels of Steel [do Saxon] e a turnê British Steel [do Priest]. Uma banda veio nos ver em Hannover, e era o Accept. Eles tomaram uns drinques conosco, e conversaram sobre fazer a próxima turnê. Não tínhamos ouvido falar deles antes, mas alguns anos depois eles vieram para os Estados Unidos com a gente, quando fizeram o disco Balls To The Wall.

O próximo disco do Saxon vai ser o 21º da banda…
Sim, 21º. Mas poderia ser o 51º. A gente realmente tá pouco se lixando para o número do disco. A gente só soube que o anterior era o vigésimo porque é um bom número, não é? É um daqueles números comemorativos. Então, nesse momento, ainda estamos na turnê de 35 anos [de banda]. Vai continuar assim durante os festivais desse verão. Quando sair o novo disco, aí a gente muda o nome.

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Você acreditava que iam chegar tão longe quando a banda começou, em 1978?
Não. Não acho que alguém acredite, né? Na verdade, não tínhamos nenhuma atitude de "dominar o mundo" no começo, embora isso talvez tenha surgido mais tarde. Quando começamos, só queríamos fazer um disco e shows onde bandas de verdade costumavam tocar, em vez de só nos pubs [risos].

O Saxon decolou bem rápido no começo, com músicas nas paradas de singles do Reino Unido, discos no Top 40 e turnês com Motörhead, Priest e Rush em 1980-81.
Sim, verdade. Foi nosso segundo disco, Wheels of Steel, que realmente colocou fogo na Europa. Acho que isso rolou nos EUA também, mas infelizmente tivemos muitos problemas com a gravadora dos Estados Unidos naquela época. Eles não prensaram muitas cópias do Wheels of Steel nos EUA – cerca de 25.000 e foi tudo. Então lá havia alguns problemas políticos. Mas foi um disco muito importante para nós. Ele nos levou para o próximo nível – deixamos de ser uma banda local, que tocava em boates e pubs, e passamos a ser uma banda internacional, que fazia grandes shows.

Depois de ficarem um pouco em turnê com o Wheels of Steel, vocês logo voltaram ao estúdio para gravar Strong Arm of the Law, no mesmo ano. Mas sei que você achava que a banda deveria ter continuado na estrada.
Um dos motivos disso foi que fizemos a turnê nos EUA junto com o Rush, que foi nossa primeira turnê por lá. Foi maravilhoso. Digo, era a turnê Moving Pictures deles, então foi sensacional. Mas aquele, de fato, não era o nosso público naquela época específica. A gente se saiu muito bem e o público foi fantástico, mas provavelmente teria sido melhor sair com o Judas Priest ou alguma outra das maiores bandas de rock da época – Scorpions ou coisa do gênero. E já que só vendemos nos EUA o que a gravadora havia lançado – 25.000 ou seja lá qual for o número – o empresário nos disse para voltar e fazer um novo disco bem rápido. Mas acho que, na verdade, a mesma coisa aconteceu de novo: o disco seguinte foi muito bem recebido na Europa, mas não chegou a fazer sucesso nos Estados Unidos [risos]. Então foi um negócio meio triste mesmo. Acho que perdemos aquela onda do início dos anos 80 nos EUA. Mas tínhamos muitos fãs por lá, e fizemos aquela turnê de grande sucesso junto com o Accept, entre os discos Power & The Glory e Crusader. Lembro que fizemos alguns shows com o Sammy Hagar por lá, e ele nos disse: "em algumas partes do país eu faço muito sucesso mesmo, e em outras nem as bactérias vêm ver o meu show" [risos]. Com o Saxon era assim também.

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Você era um fã da antiga banda do Sammy Hagar, Montrose?
Ah, o primeiro disco do Montrose era a nossa Bíblia. Tínhamos um carro americano com um 8-track, e costumávamos tocar o disco do Montrose direto, sem parar. Na verdade, se você ouvir "Rock Candy" [do Montrose], a mesma batida de bateria está em "Denim & Leather" [do Saxon] [risos]. Fomos tremendamente influenciados por aquele disco. Ouvíamos muitas bandas americanas daquele período – Grand Funk Railroad, Black Oak Arkansas, Mountain.

Você começou como baixista. O que te atraiu para esse instrumento?
Sim, comecei como baixista fazendo backing vocals. Queria ser guitarrista, e cheguei a tocar guitarra por um bom tempo, mas nunca conseguia me concentrar, em termos de ensaio. Não conseguia dedicar tanto tempo assim da minha vida para tentar tocar como Rory Gallagher ou coisa assim [risos]. Não conseguia me acostumar com aquilo, então acabei me direcionando para o baixo. Ainda toco guitarra, mas nunca segui em frente, saca? Nunca deixei de tocar blues, nunca passei pra outra, cara [risos]. Sei tocar algumas frases de blues, e é tudo. Mas, como baixista, eu era bastante bom, tecnicamente.

Em que momento você se tocou de que podia cantar?
Foi bem novo. Minha mãe era musicista, e ela tocava piano e órgão na capela local. Então cresci cercado por grande hinos, como “John Brown’s Body”, e todo esse tipo de coisa. Acho que tinha grandes coros na minha cabeça desde bem novo, mas com certeza foi minha mãe que me passou o gene da música. O meu pai apoiava bastante – ele comprou um baixo elétrico no prego para mim – mas eu acho que ele tinha ouvido de lata.

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Você chegou a cantar no coro da capela?
Não, naquela época eu era muito tímido. Não queria chamar a atenção de ninguém para mim. Era bastante habilidoso com a música, mas era tímido demais para estar no coro, na verdade.

Quais eram as músicas que você gostava de acompanhar cantarolando quando menino?
Coisas que eu ouvia no rádio – o pop e o rock dos anos 60, como The Kinks e The Pretty Things. O meu irmão mais velho gostava de rock n' roll, tipo Jerry Lee Lewis e Elvis Presley, mas tudo isso foi um pouco antes do meu tempo. O irmão do meu melhor amigo gostava de blues, então eu costumava poder ouvir Blind Lemon Jefferson e Howlin' Wolf lá na casa dele.

Você herdou o apelido "Biff" ("sopapo") do seu irmão mais velho. E ele, como ganhou esse apelido?
[Risos] Não sei. Talvez ele batesse muito nos outros. Ele era mais alto que eu, também. Eu tenho 1,85 m, mas ele tinha uns dois metros de altura, então era um rapagão. Herdei todos os inimigos dele quando entrei no colégio.

Então ele tinha uma reputação.
Ele tinha uma certa reputação, sim. Estava sempre encrencado com a polícia local. Ele era meio rebelde – e eu também, na verdade. Eu tinha uma motocicleta aos 16 anos, e era meio pirado, meio marginal. Roubava miudezas basicamente, mas estava do lado errado da lei. Minha mãe e meu pai me criaram bem, mesmo nossa família não sendo rica, mas eu sempre fui um pouco rebelde. Era um dos caras que ficava na esquina, conversando com as garotas e fumando. Todo mundo achava que eu era bem pior do que era de fato, mas é assim que costuma ser, não é?

Você gostaria de não ter herdado o apelido?
Não, não me incomoda. Poderia ser bem pior. Sei que nos EUA "Biff" é meio que um apelido de playboyzinho, que ficou famoso com os filmes De Volta Para o Futuro. Mas não me importo. É um apelidinho maneiro.

J. Bennett algumas vezes já ouviu Princess Of The Night, do Saxon, no repeat psicótico.

Tradução: Marcio Stockler