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Música

Rob Halford, do Judas Priest: Um Metaleiro de 63 Anos sem Arrependimentos

Conversamos com o veterano do metal sobre o novo álbum do Judas Priest e sobre suas próprias perspectivas desse gênero cujo caminho ele ajudou a pavimentar.

Muito antes de o heavy metal ter ganhado a conveniência de ter uma terminologia exata, a gênese de sua história já estava a seu caminho nos subúrbios das ruas de Birmingham, Inglaterra. Apesar de seu começo remeter a 1969, a trajetória de sua dominância inimitável e de seu reino sobre o heavy metal começou para o Judas Priest de fato quando um jovem vocalista chamado Robert Halford junto-se ao time em 1973. O ano seguinte viu o lançamento do primeiro álbum da banda, Rocka Rolla, um lançamento anômalo, mas não menos promissor, que logo seria seguido pelos indisputáveis álbuns-marco do heavy metal, como Painkiller, British Steel, Screaming for Vengeance e Sad Wings of Destiny, e uma história de rock'n roll que eleva as músicas da banda para muito acima das tribulações que eles suportaram pelo caminho.

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No curso de quatro décadas, tornou-se cada vez mais raro escutar uma banda de heavy metal (independente de seu subgênero) que não cite o Judas Priest como influência de sua própria música ou como a banda que os fez iniciar a jornada rumo ao reino dos fãs de metal. O próximo mês verá o lançamento do décimo sétimo álbum de estúdio pelo Judas Priest, Redeemer of Souls – primeiro disco gravado sem o guitarrista fundador da banda, K.K. Downing. Ocupando o lugar de Downing está Richie Faulkner, um guitarrista que prova o mérito de sua posição durante as treze músicas do álbum, dando à banda um comando ascendente familiar, mas completamente novo no som, que continua compacto e focado como tem sido há anos. Apesar da idade e da depreciação natural, a voz de Rob Halford é clara e distinta como sempre, pareando perfeitamente ao lado dos riffs e ganchos melódicos da música assim como ele tem feito por 40 anos.

As perspectivas de fãs fiéis naturalmente evoluem com o tempo, guiadas tanto pela atividade quanto às vezes pela inatividade dos músicos que reverenciamos. Longevidade e paixão sempre pareceram paradoxais para tantas bandas, às vezes trabalhando em conjunto e às vezes como forças opostas, querendo que a banda se condene ao rompimento. Até com os passos em falso ocasionais da carreira e com um elenco de gafes, há uma lista talvez muito curta de outras bandas de heavy metal que seriam tão influentes ou essenciais ao gênero como o Judas Priest. Conversei com o Halford sobre o novo álbum da banda e sobre suas próprias perspectivas desse mesmo gênero cujo caminho ele ajudou a pavimentar com pouco para lhe guiar a não ser a música, que, felizmente, ainda continua a lhe compelir nos dias de hoje.

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Redeemer of Souls é o décimo sétimo álbum do Judas Priest, e vocês não estavam com pressa para lançá-lo, Rob. Conte-me um pouco sobre o pano de fundo para a gravação e como a banda veio a criá-lo.
Obviamente foi um álbum bem incomum de fazermos, porque tivemos o Richie Faulkner conosco pela primeira vez na história da banda. Não se pode exagerar ao falar da importância do Richie ter colado nessa altura do campeonato. Suas contribuições são simplesmente fenomenais. Quando você entende a ideia geral de seu trabalho nesse disco, você verá que o cara é simplesmente um músico deheavy metal incrivelmente talentoso e proficiente. E não falo apenas de sua técnica e de seu estilo na guitarra, mas também de sua habilidade tremenda para compor. Dito isso, se você voltar para seis anos atrás, quando terminamos de gravar aquela obra gigante, Nostradamus, parece que houve um lugar criativo do tipo “caminhando pelo deserto” de seis anos para nós, mas estivemos muito, muito ocupados nos últimos seis anos e pouco. Primeiro, você nos vê tomando conta da Epitaph Tour, que nos tomou alguns anos, eu acho, e depois ter o Richie nos levando através dessa experiência – a experiência de uma turnê. Realmente passamos a nos conhecer a fundo com isso, juntos na estrada. Acredito que todos os ingredientes crus que fazem de nós uma banda, e o que define a banda, vieram a tomar forma com o envolvimento do Richie. Quando de fato entramos no cenário de composição, pareceu passar muito rápido mesmo, porque tínhamos esse senso de urgência. Acho que houve uma animação verdadeira no dia-a-dia da experiência de gravar. Sendo britânicos, queríamos compor e ter os finais de semana livres. (Risos) Funcionava bem como um reloginho, e sempre admirei isso no Priest.

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Não sei como outras bandas lidam com essa situação de compor, se eles vêm um dia e escrevem uma hora aqui e outra ali, mas nós fomos muito disciplinados quanto a isso, e acho que coisas boas saem de uma situação de disciplina. O que pode parecer estranho, porque, como sabemos, comporrock'n rollé vastamente caótico, e essa é a essência de porque fazemos isso. Tendo dito isso, a vibe geral do dia-a-dia realmente foi como se fôssemos crianças. Todo dia quando eu entrava no carro e ia para o estúdio, eu realmente queria fazer aquilo. Eu realmente queria entrar naquele estúdio e começar a meter bala nos riffs e em tudo o mais. Era tipo onde todas essas coisas combinavam e se fundiam na situação de compor e gravar, e fazer esse disco foi uma experiência simplesmente muito, mas muito satisfatória e gratificante. As raízes do disco são definitivamente a composição, e a composição foi simplesmente espetacular.

Depois de 40 anos como uma banda, é extraordinário pra caralho que vocês sejam um grupo de caras que ainda estão famintos por esse próximo passo evolutivo de sua música. Só de olhar para isso e ver a história do Judas Priest se desdobrando e continuando a se desdobrar, o que você pessoalmente vê como a parte mais significativa dessa história?
Acho que na verdade o lance é que seguimos focados na qualidade, e não na quantidade. Completar essa missão de compor é relativamente fácil de fazer, mas é muito difícil compor boas músicas que durem para sempre. Você vai escutar que essa ou aquela banda ou essa ou aquela música passaram no teste do tempo, e eu acho que essa é uma das alegrias de trabalhar com esse tipo específico de música. Nometal, você realmente está dando duro para criar esses momentos clássicos que você diz que esse álbum representa. Acho que desde o comecinho, se você estiver com o coração no lugar certo, e se você tiver todos os sonhos, ambições e questões no lugar certo, se você andar na linha e tentar não se distrair por nenhuma armadilha ou por pessoas te puxando para esse ou aquele lado (esse é o labirinto do metal em que você pode se perder), então acho que, se você se mantiver com as crenças do seu âmago, como fizemos com o Priest, esse é o indicador de que você está fazendo o que deveria fazer, e acho que essa tem sido nossa tenacidade ao longo dos anos.

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Definitivamente acho que o senso de longevidade é algo que não é necessariamente exclusivo do metal, mas mais um ideal nuclear para o gênero. Olhando para o heavy metal em 2014 comparado ao que era em grande parte uma cena não-existente (ao menos em terminologia) em 1974, como você viu as coisas para as quais o Judas Priest ajudou a preparar o terreno mudarem e (tomara) progredirem ao longo dos últimos 40 anos, Rob?
Devo dizer que é uma sensação absolutamente incrível. Todo dia entro em talvez uma dezena de páginas de metal na internet, do mundo todo, e adoro tentar me manter atualizado com todo esse talento extraordinário que está submergindo agora em todos esses estilos diferentes do metal. Todos sabem que sempre tive um gosto muito amplo, e de todos os tipos de coisa que escuto fora do Priest (o Priest está no centro da questão para mim, mas sempre fui muito receptivo a outros estilos de bom metal). Eu simplesmente me sinto, pessoalmente, muito grato por ter tido a oportunidade de estar com um tipo de música que algumas pessoas sugerem que foi inventada pelo Priest – alguns elementos do metalque fazemos. Ir de 1973, quando me envolvi com a banda pela primeira vez, a 2014 e tudo o que veio nesse período é sensacional. Os anos 70 foram diferentes dos 80, como estes foram dos 90 e assim por diante. Ver onde ele está agora e toda sua complexidade é muito emocionante para mim, e fico contente por me sentir assim. É um tipo de monstro muito grande de passar, mas a maior parte tem sido como um grande trem de metal que continuou deslizando para dentro do horizonte apesar de todos os obstáculos em seu caminho. Já passamos por tudo. (Risos) Na verdade falamos sobre isso no novo álbum, com uma música chamada“Hell & Back”com versos como “Still in the land of the living, not in the land of the brave”(“Ainda na terra dos que vivos, mas não na terra dos corajosos”). Tentamos fazer referências aqui e ali sobre as coisas pelas quais a banda já passou e se submeteu ao longo da história da nossa música. Tem sido uma jornada notável e, claro, a melhor notícia é que ainda está com tudo, e sempre estamos buscando a próxima grande coisa e o próximo grande momento, o que quer que isso possa ser para o Priest.

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Quando você pensa nessa jornada notável, Rob, estou curioso para saber como você vê sua própria história pessoal em relação à música. Houve alguma banda ou música específica na sua infância que te levou para a musica?
Acho que quando você está na sua adolescência, especialmente, é quando a maioria de nós começa a focar em algum tipo de música, porque estamos passando pela angústia geral da adolescência pela qual todos passam. Claro que minha angústia foi num outro tempo. (Risos) Eu nunca tive nada com o que gritar junto, mas eu tinha pessoas como o Little Richard, e tinha pessoas como o Elvis e todos os outros pioneiros do rock'n roll que tinham a energia e a animação, que era como eletricidade quando te tocava. Claro que crescendo no Reino Unido nos anos 60, que era uma época ótima para todos os aspectos da cultura, mas particularmente para o rock'n' roll, escutar essas músicas primordiais de pessoas como Hendrix, bandas como Cream ou King Crimson (esses eram os caras) me fazia pensar “sabe, isso está tomando conta de mim. Há uma oportunidade para eu estar envolvido de alguma forma aqui com esse tipo de vida. Eu adoraria isso”. Então, claro, você casa isso com o fato de que eu estava descobrindo minha voz e que sabia cantar (e até agora, saber cantar é a experiência mais gratificante da qual eu posso desfrutar). Eu simplesmente adoro cantar. Isso faz eu me sentir ótimo, então vou continuar fazendo isso. Eu tenho um tipo de fusível aceso, e ele paga as contas. (Risos) Não estou tirando sarro, não. Só estou tentando sugerir que essa voz que tenho me sustentou de formas muito diversas. Todos esses tipos de momentos marcantes do início da minha vida me fizeram fortemente ambicioso durante minha adolescência e obviamente durante o inicio dos meus 20 anos para tentar entrar em uma banda. Eu queria fazer parte de uma banda. Eu tinha estado em algumas bandas antes de me juntar ao Judas Priest. Fazer parte dessas primeiras bandas desconhecidas foram marcos na minha vida, na verdade, então aprendi muito nesses poucos anos pulando de uma banda para a outra. Quando me ofereceram o trampo no Judas Priest, eu ainda não era um profissional, mas certamente já havia passado pelas tentativas e erros do que significa estar em uma banda e sabia o que você precisa fazer para uma banda dar certo. É uma história bem legal. Bom, essas são as conexões de como tudo começou para mim, Jonathan.

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Obviamente sua voz é provavelmente uma das mais reconhecíveis e distintas não só do heavy metal, mas da música em geral. Houve um momento específico que você se deu conta de que tinha essa voz potente, ou foi meio que uma combinação gradual para você no começo encontrar esse alcance?
Isso remete novamente àquelas bandas de que fiz parte no início (eu amo os nomes): Lord Lucifer (Risos), eu amo isso. Bandas como Hiroshima, Abraxis e outras. Quando você está numa sala com vários caras, com equipamentos de som que funcionam e você está ali para fazer barulho junto, é como um embrião – os fundamentos realmente reais e verdadeiros do que você quer ser em uma banda – e acontece de uma forma muito orgânica, na real. É limpo. É muito puro. É bem intocado por qualquer influência de fora, então foi dessa forma que descobri. Quando você dá um microfone a alguém e esse alguém soa mais alto do que realmente é, tudo pode acontecer. (Risos) Você pode ver as pessoas cantando no karaoke – quando você põe um microfone em suas mãos, elas mudam. Você muda. De verdade. Algo acontece, e eu não sei explicar. Mas quando você de fato começa a gritar ou a fazer algo do tipo com um microfone, você escuta a voz saindo das caixas de som, amplificada, e é absolutamente emocionante. É emocionante, mas também é meio inspirador, e te dá uma sensação de “o que posso tentar em seguida? O que posso fazer em seguida?”. Foi como descobri, e eu já escutava aos grandes nomes, como Janis Joplin, que eu amo de paixão, que foi uma das melhores cantoras de rock de todos os tempos e, claro, escutava meu amigo Robert Plant cantando blues do jeito que ele cantava. Eu gosto de pensar que ainda tenho blues na minha voz. Eu daria tudo para gravar um disco de blues. Eu daria tudo. É algo que eu quero fazer porque quero explorar o que minha voz é capaz de fazer nesse mundo maravilhoso. É como aprendi a fazer muitas das ascendências, dos sweepings, dos berros. E também descobri que tenho uma voz que alcança diferentes oitavas, direções e diferentes tipos de projeções. É uma combinação de um senso de aventura e de ter sido inspirado por esses caras, esses cantores maravilhosos. É uma mistura de tudo, mas principalmente uma descoberta do que a voz é capaz de fazer.

O que é que continua te trazendo de volta e que te puxa para esse tipo de música que você ainda cria de forma tão apaixonada, por Redeemer of Souls como você era porRocka Rolla ou Sad Wings of Destiny ou por qualquer um dos lançamentos do início do Judas Priest?
Acho que essencialmente, desde que a música foi inventada, ela alcançou e tocou todo tipo de geração concebível. Jonathan, não é um tipo de coisa muito difícil de descrever? Porque você só pode de fato sentir quando você está escutando. Quer você esteja escutando com outras pessoas, num quarto sozinho com seus fones de ouvido ou num show, é uma coisa muito difícil de definir. Mas acho que os elementos do metal, com seu senso de potência, sua agressão, seu volume e suas várias texturas, e especialmente as mensagens, acho que o metal (e quando digo “metal” estou falando de todo tipo de metal) sempre teve suas mudanças muito potentes por detrás dele, de oportunidade e de superação de coisas na vida, que é uma mensagem que o Priest tem abraçado. É um tipo de música que dá muito poder, o heavy metal. Tenho certeza de que as pessoas diriam a mesma coisa sobre música country ou sobre R&B, rap ou hip-hop ou o que seja, mas acho que é um fato absoluto que se você falar com pessoas saindo do lugar de onde eles acabaram de ver o show de sua banda favorita de heavy metal, todos eles se sentem muito vivos e todos se sentem revigorados. A experiência toda é muito emocionante e muito catártica, então todos esses atributos, para mim, têm continuado intactos com o heavy metal, e trata-se desse desejo humano. É um ingrediente muito importante do seu amor pessoal por metal. Eu me sinto extasiado de estar perto de me tornar um metaleiro de 63 anos. (Risos) Meu amor por essa música é tão forte quanto o de um metaleiro adolescente. Nos conectamos um com o outro sem mesmo dizer nada porque nós dois sentimos a mesma coisa por dentro. O metal é uma benção. Definitivamente.

Jonathan Dick está no Twitter - @steelforbrains

Traduzido por: Julia Barreiro