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Música

Essa Velhinha Islandesa Lançou Mais Discos Que o Based God e É Adorada Pela Björk

Infelizmente, a Vovó Lo-Fi morreu em 2011, aos 81 anos, mas antes de seu falecimento, a super fã Kristín Björk Kristjánsdóttir fez um documentário sobre ela.

É geralmente aos 70 anos que a maioria das pessoas aposentadas começa a se dedicar a paixões ocultas: jogar um pouco de golfe, fazer massagem em bonsais usando óleos exóticos, escrever livros contando memórias sórdidas ou virar o fodão do bridge.

Lá na Islândia eles pensam diferente. Sigridur Nielsdottir nasceu antes da Segunda Guerra Mundial, mas isso não foi problema quando tomou a decisão de começar a gravar música em 2001, se reinventando como uma adorada figura cult, mais conhecida na Islândia como a famosa Vovó Lo-Fi.

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Tendo experimentado com música a vida inteira, ela finalmente começou a colocar sua mistura única de teclado twee, batidas leves e velozes e gravações de campo sampleadas em fitas cassete, fazendo mais discos do que Lil B ou Prince (59 no total) nos seis anos que passou gravando, conquistando fãs pelo mundo inteiro e recebendo o maior endosso possível na Islândia: o de Björk. A Vovó Lo-Fi por fim largou a música, porque acreditava que o mundo estava cansado dos seus sons; uma decisão honrada, à qual muitos músicos com a metade da idade dela deviam prestar atenção.

Sigridur, infelizmente, morreu em 2011, aos 81 anos, mas antes de seu falecimento, a super fã Kristín Björk Kristjánsdóttir fez um documentário sobre ela. Kristin chegou até a criar sua própria banda cover para preencher o espaço vazio deixado pela relutância da Vovó Lo-Fi em tocar ao vivo. O documentário (que você pode comprar no Vimeo) é como assistir aos velhos e agradáveis filmes de família de alguém, se a sua avó fosse uma mescla animadona de Ethel Tenenbaum com Micachu.

Conversei com a diretora do documentário, Kristín, sobre a música da Vovó Lo-Fi, macetes de áudio, e sobre como Björk acabou se tornando sua maior fã.

Noisey: Para aqueles que não conhecem a Vovó Lo-Fi, poderia explicar um pouco sobre ela, e sobre a vida dela?
Kristín: Ela era uma vovó muito charmosa, alegre e sábia, que começou a fazer música aos 70 anos de idade. Ela gravou e lançou 59 CDs em seis anos. Sorria de orelha a orelha com um entusiasmo inocente pelos sons, e explorava tudo o que estava à volta dela como fontes potenciais para músicas completamente intocadas por qualquer tipo de mecanismo da indústria musical. Ela era uma perfeita artista "faça-você-mesmo".

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Como você descreveria a música dela?
É brincalhona, exploratória, um elixir sem igual, composto de elementos pop que não saem da cabeça e uma esquisitice doidona. Ela tocava num Casio pequeno, investigando todo o seu potencial: a bossa-nova, o samba, a balada. Cantava odes infantis, sinceras, de voz frágil, homenageando pessoas queridas, misturando suas gravações de campo feitas exclusivamente dentro da casa dela. Adicionando samples de seus animais de estimação ronronando, arrulhando e ganindo em sincronia com suas batidas e seus ritmos. As músicas são cheias de humor. A Vovó Lo-Fi se divertia com o próprio processo criativo, e isso fica claro do início ao fim. Ela é uma ótima contadora de histórias também.

Por que ela começou a tocar música aos 70 anos?
Ela ganhou de aniversário das filhas um teclado e um gravador de fita cassete com dois decks.

59 discos é uma quantidade insana. Como uma só pessoa consegue produzir tanta música naquele espaço de tempo?
Criar música a fazia mais feliz do que ela fora em muito tempo, então daria para dizer que ela nasceu de novo, por meio da própria criatividade. Depois de viver uma vida bastante simples e solitária, a música repentinamente criou uma ponte entre ela e o mundo lá fora, trazendo-lhe novos amigos e desconhecidos que davam cor aos seus dias. Gente do mundo inteiro podia ir bater à porta dela e dizer oi.

Como você descobriu a música da Vovó Lo-Fi?
Ela se tornou uma figura cult em Reykjavik. Uma senhora misteriosa que era fonte de músicas sensacionais, todas lançadas com capas feitas em casa, com seus próprios desenhos cheios de cor. Então foi impossível não ficar curiosa para conhecer a pessoa, a maestra por trás de tanta coisa boa.

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Dos macetes de áudio dela, qual o seu favorito?
Ela gostava muito de fazer papel alumínio soar como fogo. Aquela alegria era muito contagiante!

Verdade demais. Ela começou gravando músicas para as filhas. Como passou disso para fazer música para outras pessoas?
Uma garota que trabalhava numa loja de discos perguntou por que ela vivia comprando fitas. Ela se ofereceu para ajudá-la a fazer CDs e vendê-los na loja. Para sua surpresa, começaram a vender como água no deserto.

O que ela achava do sucesso que fez?
Ela se sentiu empolgada e lisonjeada, mas também não queria ficar vaidosa com aquilo, porque era uma pessoa muito modesta.

Ela não teve uma super fã islandesa?
A Björk colecionava os CDs dela. Acho que ela é uma das poucas pessoas que têm todos.

As duas chegaram a se encontrar?
Não, acho que não. Sigridur não costumava ouvir música, assistir TV e nem ler jornais. Ela sabia da existência da Björk, mas não passava muito disso.

Ela chegou a fazer algum show?
Ela nunca fez um show! Era tímida demais. Daí a importância da banda cover.

De onde veio a ideia do documentário?
Nós a convidamos uma vez para tomar leite achocolatado com biscoitos, quando estávamos montando a The Sigridur Nielsdottir Experience – uma banda cover para tocar a música dela ao vivo. Queríamos encontrar a mestra, e descobrir como ela fazia a mágica acontecer. Acabamos passando os oito anos seguintes fazendo um filme sobre ela.

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Qual foi a reação dela à sua banda e à ideia de fazer um documentário?
Ela me disse que se eu e meus amigos quiséssemos tocar a música dela ao vivo, nada a deixaria mais feliz. Ela se divertiu muito fazendo o filme.

Qual memória dela mais ficou com você?
Talvez de quando estávamos sampleando em sua cozinha. Eu coletei sons para a banda com ela e foi divertido ser guiada por seu mundo de sons.

Qual sua opinião sobre a nova compilação da obra dela?
Deixamos que eles usassem a master que criamos para o The Greatest Hits of Grandma Lo-fi, que vai sair em CD, junto com o DVD que lançamos do documentário. Nós três que fizemos o filme pusemos muito amor na tarefa de selecionar as músicas, porque havia um total de quase 700 dentre as quais escolher. Faz muito sentido ver a música dela ser lançada no mesmo formato cassete em que ela fez as gravações.

Obrigado, Kristín!

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Tradução: Marcio Stockler