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Noisey

Morre aos 68 anos de idade Charles Bradley, gigante do soul

A triste notícia foi confirmada por seu assessor na tarde do último sábado (23).

Matéria originalmente publicada no Noisey US.

Charles Bradley, o cantor de soul cuja carreira tardia o levou à evidência e o transformou num ícone, faleceu aos 68 de anos idade. Bradley havia sido diagnosticado com câncer em outono de 2016 e havia cancelado há pouco uma série de shows após a doença ter se espalhado para o seu fígado.

"É com o coração pesado que anunciamos a morte de Charles Bradley", escreveu o representante do cantor em nota. "Sempre guerreiro, Charles lutou contra o câncer com tudo que podia […]. Agradecemos suas orações neste momento de dificuldade. O Sr. Bradley era muito grato por conta de todo o carinho que recebia dos fãs e esperamos que sua mensagem de amor continue sendo lembrada e levada adiante."

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A breve porém brilhante carreira musical de Bradley começou quando este tinha 62 anos. Nos três discos que lançou — No Time for Dreaming em 2011, Victim of Love em 2013 e Changes de 2016 — Bradley deu novo fôlego aos clichês do soul e R&B. Em singles como "The World (Is Going Up In Flames)" e "Strictly Reserved for You", mostrava uma voz hábil, que saía fácil, charmosa tanto em baladas mais calmas quanto aos berros em meio a crescendos funkeados.

Era complicado separar a riqueza da voz de Bradley de sua vida nômade e muitas vezes difícil antes do contrato com a lendária Daptone Records aos 60 e poucos anos. Nascido em Gainsville, Flórida, mas criado no Brooklyn desde os oito anos de idade, Bradley passou parte da vida adulta em situação de rua, com uns bicos aqui e ali, por vezes até atuando como imitador de James Brown.

Sua improvável ascensão começou com o lançamento de seu disco de estreia em 2011. Gravado com a Menahan Street Band — com integrantes de Antibalas, El Michels Affair, Sharon Jones & The Dap-Kings, e da Budos Band— No Time for Dreaming foi logo aclamado pela crítica. Junto do show cativante de Bradley, que apresentava um carisma único, logo o cantor se tornou uma das mais brilhantes joias da coroa da Daptone.

Victim of Love foi lançado dois anos depois e Bradley, com 64 anos, não dava trégua. Muito pelo contrário, se mostrava cada vez mais confiante. Mais confortável com a banda, seu alcance vocal se expandia, trabalhando com grooves mais lentos. Seu terceiro disco, Changes, saiu em 2016, todo construído em torno de um cover absurdo de "Changes" do Black Sabbath — uma obra improvável de deep soul que poucos, além de Bradley, conseguiriam dominar, se é que outros seriam capazes.

"As pessoas estão espalhadas pelo mundo vivendo suas próprias identidades", disse Bradley ao Noisey em 2014. "E é assustador, muito assustador. Eu não sei onde me encaixo, mas sei que estou em casa. É assustador, mas é preciso confiar no instinto e no coração. Saiba que tem algo real dentro de você e prenda-se à sua dignidade. Quando você ver algo que sabe está errado, não suma com aquilo. Não importa o que seja".