Este artigo faz parte da nossa série Novos Vizinhos, em que jovens refugiados de toda a Europa são editores convidados da VICE.com. Lê a Carta da Editora aqui.
Mohab* é um refugiado sírio de 19 anos. Cresceu na cidade de Hama e chegou à Holanda no ano passado.Aqui estou eu, em Amesterdão, a aprender holandês e a tentar encontrar o meu lugar. Os meus pais ainda estão na Síria, na cidade de Hama. Eles arriscaram tudo e decidiram ficar para que o meu irmão e eu possamos ter um futuro, mas eu não sou capaz de seguir em frente com a minha vida. A minha vida estava em Hama, onde ficaram a minha escola, os meus amigos e a minha família. Entristece-me muito pensar nisso, mesmo sabendo que agora estou seguro e confortável aqui.
Mohab* é um refugiado sírio de 19 anos. Cresceu na cidade de Hama e chegou à Holanda no ano passado.Aqui estou eu, em Amesterdão, a aprender holandês e a tentar encontrar o meu lugar. Os meus pais ainda estão na Síria, na cidade de Hama. Eles arriscaram tudo e decidiram ficar para que o meu irmão e eu possamos ter um futuro, mas eu não sou capaz de seguir em frente com a minha vida. A minha vida estava em Hama, onde ficaram a minha escola, os meus amigos e a minha família. Entristece-me muito pensar nisso, mesmo sabendo que agora estou seguro e confortável aqui.
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A cidade de Hama ficou célebre pelas manifestações e massacres de 1982. Mas também é a minha cidade natal e tenho muito boas recordações dela. O meu irmão é menor de idade e está agora na Suécia. Pedimos um visto de "reencontro familiar" para que os meus pais possam ir ter com ele, mas o processo é muito mais complicado do que seria de esperar. Para poderem entrar no país, os meus pais têm que se dirigir primeiro a uma embaixada sueca para serem entrevistados. Obviamente, agora não há nenhuma embaixada sueca na Síria, nem na maioria dos países vizinhos. A solução seria os meus pais viajarem para a Turquia, mas todos sabemos que é muito perigoso viajar para norte, com o actual estado das coisas. Além de que eles já são mais velhos e não têm muito dinheiro, pelo que as probabilidades de morreram pelo caminho são enormes.Na semana passada ficámos a saber que existe uma embaixada da Suécia no Sudão e que talvez possam obter lá o visto. Mas, mesmo que conseguissem lá chegar e ultrapassar todo o processo, teriam de esperar muito tempo até saberem se lhes é concedida, ou não, a autorização de residência. Como as rendas no Sudão não param de subir, os meus pais teriam que viajar até lá para fazer a entrevista e voltar de imediato para a Síria, para ficar à espera da resposta. É muito injusto. Os meus pais são pessoas de idade. Devia ser mais fácil para eles viajar para a Europa.
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Fazia qualquer coisa para ajudar os meus pais, por isso, assim que obtive a autorização de residência, fui para uma ONG, que ajuda os refugiados aqui na Holanda, para ver se me ajudavam a preencher o requerimento para o pedido de reencontro familiar, mas não valeu de nada. Um funcionário ainda me disse: "Não nos faças perder tempo, como não és menor não tens qualquer hipótese. Às vezes a vida é mesmo assim, cruel".
Vê também: "Luz em lugares sombrios"
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Tive que fugir do meu país com apenas 18 anos de idade. Tinha acabado o Liceu e estava muito orgulhoso disso. Tinha-me saído muito bem. Tive que trabalhar duro para conseguir tão boas notas, mas consegui. Estava prestes a atingir a maioridade e, naquela altura, o exército recrutava todos os que estivessem aptos para combater. A minha mãe não estava disposta a isso e fez tudo o que podia para nos tirar do país. Venderam a nossa casa e, com o dinheiro que fizeram, mandaram-nos para fora do país.
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"Nós temos o direito de dizer o que pensamos, ou como nos sentimos. Obviamente, que me sinto agradecido por estar a salvo, mas as nossas famílias não estavam e algumas continuam a não estar".
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Decidi não ligar ao que me tinham dito e continuar a tentar. Agora estou à espera que rejeitem o meu pedido, para recorrer a um advogado. Vamos ver se assim consigo que um juiz ouça a minha história. Não é justo que os meus pais não possam vir, porque eu sou maior e que, ao mesmo tempo, me considerem menor para obter as ajudas que concedem a outros refugiados. Fui um dos poucos refugiados do campo a queixar-se do tempo que lá ficámos retidos.Não entendia porque é que ninguém nos dizia nada e se limitavam a deixar o tempo correr. Nós temos o direito de dizer o que pensamos, ou como nos sentimos. Obviamente, que me sinto agradecido por estar a salvo, mas as nossas famílias não estavam e algumas continuam a não estar. A vida no acampamento era muito difícil: não tínhamos dinheiro e não havia nada a fazer senão esperar. Houve pessoas que nos ajudaram, mas foram principalmente cidadãos de Amesterdão, não foram os membros das ONGs.Neste momento só quero que os meus pais estejam em segurança e ajudar os outros. Só depois poderei relaxar e começar a planear o futuro.
Muitos homens desesperam e perderam a paciência para esta longa espera. Alguns tinham dinheiro, mas os que não tinham nem dormiam nem comiam. Quem fumava tinha que pedir dinheiro para comprar tabaco. Advertiram-nos para não roubar, nem fazer nada de errado durante a espera, porque isso poderia significar perder automaticamente a oportunidade de obter o visto. Por isso ninguém reclamava. Os que falamos inglês, podemos fazer mais qualquer coisa que os outros, como ter aulas de holandês, mas aos outros refugiados não é permitido fazer mais nada além de tentarem contactar as suas famílias. Não consigo entender isto."Decidi que tinha que fazer algo por isto e lembrei-me de criar uma aplicação para ajudar os refugiados a requerer o visto".
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Decidi que tinha que fazer algo por isto e lembrei-me de criar uma aplicação para ajudar os refugiados a requerer o visto. Na Internet há muita informação, mas está espalhada por um monte de sites e não há um lugar onde esteja tudo reunido. O que fiz foi reunir toda a informação numa aplicação para smartphone, chamada RefInfo, para que os refugiados que falam árabe e Inglês saibam quais são os primeiros passos a dar e o que têm de fazer para começar a aprender holandês.Já há muitos refugiados a utilizá-la e agora estou a tentar traduzi-la para em Tigrinya, para os refugiados da Eritreia. Neste momento só quero que os meus pais estejam em segurança e ajudar os outros. Só depois poderei relaxar e começar a planear o futuro.*O apelido foi editado
Assina aqui a petição do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que urge os governos a assegurarem um futuro em segurança para todos os refugiados.Na Holanda, podes contribuir para a ONG Stichting Vluchteling aqui.
Assina aqui a petição do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que urge os governos a assegurarem um futuro em segurança para todos os refugiados.Na Holanda, podes contribuir para a ONG Stichting Vluchteling aqui.